"Fernão de Magalhães" - Poema de Fernando Pessoa, em "Mensagem"

 FERNÃO DE MAGALHÃES

No vale clareia uma fogueira.

Uma dança sacode a terra inteira.

E sombras disformes e descompostas

Em clarões negros do vale vão

Subitamente pelas encostas,

Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?

São os Titãs, os filhos da Terra,

Que dançam da morte do marinheiro

Que quis cingir o materno vulto —

Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,

Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada

Do morto ainda comanda a armada,

Pulso sem corpo ao leme a guiar

As naus no resto do fim do espaço:

Que até ausente soube cercar

A terra inteira com seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não

O sabem, e dançam na solidão;

E sombras disformes e descompostas,

Indo perder-se nos horizontes,

Galgam do vale pelas encostas

Dos mudos montes.


Fernando Pessoa, in Mensagem



Em homenagem a Fernão de Magalhães, Patrono do nosso Agrupamento. 

Que o seu feito continue a inspirar a humanidade!


Manuela Tender

Professora Coordenadora do Projeto


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